sábado, 26 de dezembro de 2009

Tudo Que é Sólido Desmancha No Ar

Cada um perde o sono pelo motivo que merece. A atual crise financeira anda atrapalhando o descanso de muito mais gente do que as causas que acometem o insône que vos fala. Afinal, os gemidos da vizinha só atrapalham o sono desse cidadão, no máximo da galera que habita a coluna da direita do arranha-céu em questão.

Voltando ao nosso tema, o que mais me chama a atenção é o constante discurso de tranqüilidade do nosso excelentíssimo. Não precisa ser economista e nem marxista para enxergar que todas as bolsas possuem uma relação de auto-dependência. Tudo gira em torno da especulação, quer dizer, estamos falando de um "dinheiro imaginado". A seguradora americana ruindo certamente foi um principio significativo, por representar a fragilidade dos créditos e seus respectivos impérios financeiros. A disparada do dólar é um indício forte que não pode ser desconsiderado. Quando a Rússia fecha seu pregão desesperada ou uma seguradora japonesa quase centenária quebra, são fortes sinais da atual vulnerabilidade do sistema econômico mundial. Talvez um reflexo maior no nosso território não seja imediato, mas se as coisas continuarem seguindo esse rumo, a nossa economia certamente sofrerá graves danos.


Uma pausa para um parágrafo desabafo:

Citarei o "velho camarada" mas quero deixar bem claro que não gosto de evocar Marx. Muitos pseudos excercem esse papel de forma medíocre. São seres estranhos (provavelmente com problemas pessoais, familiares e/ou amorosos) que encontram no movimento estudantil uma razão para viver. Usam all star, comem fast-food e "lutam" contra o imperialismo. Louvam Marx como Deus, mas adoram blockbusters. Alguns, na tentativa de ir além superar esse conflito de contradições, se tornam seres mais estranhos ainda. Tudo passa a ser elitista ou fascista sob o olhar atento desse tipo de ser, até mesmo um termo qualquer. Sem querer generalizar, longe disso! (mas vai falar pra militante mal comida da faculdade que o Brasil nao é um país civilizado pra ver o que acontece).

Retomando...

A semelhança da descrição de Marx sobre a crise do crédito com o momento presente chega a ser assustadora. Confira comigo no replay:

"Por isso, à primeira vista, a crise aparece como uma simples crise decrédito e de dinheiro líquido. E, em realidade, trata-se somente daconversão de letras de câmbio em dinheiro. Mas essas letras representam, em sua maioria, compras e vendas reais, as quais, ao sentirem a necessidade de expandir-se amplamente, acabam servindo de base a toda a crise. Mas, ao lado disto, há uma massa enorme dessas letras que só representam negócios de especulação, que agora se desnudam e explodem como bolhas de sabão, ademais, especulações sobre capitais alheios, mas fracassadas; finalmente, capitais-mercadorias desvalorizados ou até encalhados, ou um refluxo de capital já irrealizável. E todo esse sistema artificial de extensão violenta do processo de reprodução não pode corrigir-se, naturalmente."

Foi, foi, foi ele. Karl Marx! Quando eram jogados 1867.


Enquanto isso, o nosso presidente com absurdos 80% de aprovação (como pode?) afirma que:
"Não que nós não corramos risco, porque uma recessão mundial pode trazer conseqüências para todos.
No entanto, estamos mais sólidos".
Parece tão simples. A economia mundial agonizando e titio
Luiz Inácio acha que isso pode vir a trazer conseqüências. Para ilustrar e finalizar, aproveito e cito Marx novamente, com uma frase marcante que - com excelência - se tornou nome de um livro de Marshall Berman:

"Tudo que é sólido desmancha no ar".

No instante em que termino esse post a Bovespa está -10% e todas as outras bolsas de valores importantes seguem em queda livre... Será que o Brasil realmente sairá da crise sem conseqüências drásticas?

(10/10/2008)

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