sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Sábia Decisão


Saudações!

Por diversas vezes somos questionados sobre a escolha pelo nosso time do coração. Por que você torce para time??? Para muitas pessoas essa é uma resposta fácil, considerando que normalmente existe uma pressão paterna que tem influência direta nessa decisão. No meu caso foi bem diferente…

Se não bastasse ser filho de tricolor, algo que poderia ter sido determinante em uma escolha tão importante, nasci no ano de 1984. Mais que isso, nasci menos de 1 mês da conquista do Brasileirão daquele ano pelo time pó-de-arroz. Meu pai vestiu a minha irmã (2 anos mais velha) com a camisa do Fluminense desde o berço e sempre tirou fotos que constam no álbum da família. Por algum motivo desconhecido que prefiro atribuir a uma explicação divina, ele nunca repetiu o feito com o seu filho mais novo (no caso, eu).

Meus pais se separaram e os anos se passaram… diferente de outras crianças, não fui levado a estádios por imposição. Além disso, fiz o jardim e o ca em um colégio onde futebol não era a temática das prosas entre crianças. As conversas giravam em torno de como fugir daquele lugar e cavar um túnel era o nosso plano preferido… até o dia em que uma das crianças foi flagrada portando uma faca em sua mochila.

Dessa forma, não despertei precocemente o interesse pelo futebol. A situação começou a mudar depois que eu troquei de colégio. No meu novo ambiente escolar, todos as crianças comentavam sobre futebol e (talvez por isso) nenhuma tinha o interesse de fugir dali. No início foi complicada a adaptação. Meus colegas de classe comentavam lances brilhantes dos campeonatos anteriores e dava bastante trabalho para uma criança de 7 anos fingir que lembrava daqueles fatos.

O tempo foi passando, eu já estava a alguns meses na nova escola e ainda não tinha time.

O ano era de 1992. Pra quem considera a CBF uma bagunça, naquela época era muito pior e o calendário era facilmente alterado. Tinha ano que o Brasileirão era disputado no primeiro semestre, em outros no segundo. No presente ano, o campeonato estava sendo disputado no primeiro semestre. Também nesse mesmo ano ocorreu uma histórica conferência ecológica conhecida como ECO-92. No evento, a sensação era a nova invenção revolucionária: o cartão telefônico, que viria a substituir as fichinhas de orelhão. Pois bem, o fato é que a ECO-92 antecipou as férias da criançada para Junho, mês do meu aniversário.

Resultado: em julho de 1992, eu já havia completado 8 anos, curtido minhas férias antecipadas, o Brasileirão chegava ao seu momento decisivo e… eu ainda não tinha time!!! Isso era um problema sério para uma criança que tinha aprendido a gostar de futebol e queria discutir e sacanear com solidez. Foi então que, na semana que antecedia o segundo jogo da final, eu defini que teria que escolher um dos dois finalistas: Botafogo ou Flamengo.

Talvez tenha sido a semana mais importante da minha vida e eu só tinha 8 anos. Naquela época não havia a internet para pesquisar sobre os times e eu não tinha parentes próximos me influenciando nessa escolha. O Flamengo havia ganhado o primeiro jogo por 3 a 0 mas isso não teve peso algum. Um belo dia eu cheguei da escola carregando o meu dilema e me deparei com o noticiário local. O RJTV 2a edição daquela noite trazia uma daquelas clássicas reportagens lights-clichês-pré-decisão ebntre dois grandes clubes cariocas. A reportagem focava no fato dos dois bairros com o nome dos clubes serem vizinhos e contava um pouco da história e perspectivas para o confronto. Ali eu tive certeza, eu era Botafogo, óbvio.

Na mesma semana, recuperei a minha auto-estima mirim e fiz questão de externar para Deus e o Mundo: EU SOU BOTAFOGO! O impacto foi tão forte que um colega de classe mulambinho me convidou para ir a grande final com a sua familia. E lá estava eu, com uma família de flamenguistas nas cadeiras inferiores do Maraca. Como a maioria sabe o setor era misto, portanto qualquer ataque fazia com que todos levantassem. Mesmo em pé, em cima da cadeira e pulando, com 8 anos eu não conseguia atingir a altura suficiente para assistir o jogo. Meu amigo dormiu no colo da mãe e eu me mantive persistente. O Flamengo ganhava de 2 a 1 e aos 43 minutos do segundo tempo… penalti para o Botafogo! Era tarde demais, boa parte da torcida alvinegra já deixava as dependências do Maraca. Foi então que eu consegui ver o lance!

Valdeir correu pra bola e marcou, 2 a 2. Esse foi o placar final, mas pra mim esse jogo sempre foi 1 a 0. Na saída do Maraca, o pai do meu amigo abordou um vendedor e comprou uma bandeira do Botafogo para me presentear. Antes de ter uma camisa do Botafogo, eu tive uma bandeira. Daí pra frente eu passei a falar com tanta convicção “SOU BOTAFOGO” que as portas se abriram naturalmente, tudo fez sentido.

No ano seguinte, dessa vez com 9, eu voltei ao Maracanã para outra decisão (a Conmebol). Apesar de esquecer meu óculos e ver tudo embassado daquele novo ponto de vista chamado arquibancada, pude gritar “É CAMPEÃO”. Mas essa é outra história…

“Você não escolhe o Botafogo, O BOTAFOGO ESCOLHE VOCÊ!”