sábado, 26 de dezembro de 2009

Cidade Desespero

Durante uma das recentes missões ocasionadas pelo meu ofício, estava o sujeito que vos fala enfrentando engarrafamentos rotineiros a caminho da odiosa Barra para buscar equipamentos. Entre um telefonema e outro, um cream cracker - gentilmente cedido pelo "piloto" - e outro, observei atentamente a Av.Niemeyer. Com exceção das atraentes e sugestivas luzes dos motéis, a escuridão da estrada dava um ar deveras sombrio durante boa parte do trajeto.Me veio a mente o quão terrível deveria ser, por algum motivo, ficar largado sem lenço nem documento no meio daquele breu. Segui meu caminho, com certo custo achei o local de destino e a vida continuou.

Todavia, citei tal acontecimento com o intuito de - além de conseguir uma introdução para o post - descrever o cenário que está linkadocom a barbárie que causou intenso choque a muitas pessoas essa semana.


Fato: Em um bairro nobre, o casal saindo de um restaurante chique em seu carro de luxo é abordado por marginais e se tornam vítimas de um sequestro relâmpago. Infelizmente esse fato visto de longe não seria novidade, tendo em vista que esse tipo de coisa e outras piores acontecem o tempo todo. Um caso lastimavelmente corriqueiro se não fosse o seu desfecho trágico. Ao seguir a Niemeyer, por pura maldade os bandidos resolveram jogar o casal penhasco abaixo. Os 2 escaparam com ferimentos leves. Sorte e/ou Deus (duvida?), não sei ao certo.

O mais surpreendente ainda estava por vir. O carro é achado abandonado numa favela, o que poderia prejudicar bastante muita gente. É notório que nesse tipo de ocorrência se a solução do caso não for imediata, a combinação mídia/autoridades sempre resulta em holofotes/tiros. Totalmente diferentes de chacinas e crimes bárbaros que acontecem todos os dias - em locais periféricos ou não, esse é o tipo de delito no qual se a impunidade dura algum tempo pega muito mal para as autoridades e consequentemente para o Estado.
Em seguida, através de denúncia anônima, a polícia localiza os 4 criminosos com sinais de tortura e todas as referências do assalto. A informação vinculada pela mídia é a de que (outros) bandidos tenham torturado os marginais.

Com certeza esse exemplo vai de encontro com pensamentos de muitos sociólogos e teóricos da segurança pública. A ausência do Estado e o domínio do tráfico cria o que é chamado por eles e pela mídia de "poder paralelo", que tem as suas próprias leis e obviamente são severas. O 'tribunal paralelo' se mostra rápido e eficiente da pior maneira possível. Nesse tribunal é como se a crueldade utilizada no casal seja injustificável, mas existe justificativa para a crueldade.Bandido tortura vítima, bandido tortura bandido. Onde o Estado não atua com eficiência, tem alguém tomando conta. Seja tráfico, milícia, grupo de matadores, segurança privada ou simplesmente grupos de moradores. O desamparo do Estado resulta nisso, sempre existe uma "ordem vigente" oriunda de outras fontes. Cada lugar tem a sua lei, tem que saber chegar e saber respeitar.
A impressão que dá é de que a vida não vale nada. Nem um cigarro.
Mais uma vez não apresentei nenhuma novidade, talvez esses reflexos sejam apenas lugares-comuns. Mas como O Rappa me ensinou, "Paz sem voz não é paz é medo".

(06/03/2009)

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