
Acontece que um belo dia estou numa mesa de bar com duas turistas cearenses recém chegadas ao Rio de Janeiro e me interesso pelas suas expectativas acerca de explorar a cidade vulgo maravilhosa. Uma delas diz com todas as letras que a intenção é de beber um chopp onde os boêmios escreveram garota de ipanema, passear pelo leblon, conhecer o Rio de Manoel Carlos... Confesso que nesse tipo de situação tenho um sério problema. Bate o espirito da tolerância zero enão consigo conter minha indignação com esse recorte geográfico tão limitado e encantador para os visitantes metidos a besta ou simplesmente mal informadas. Imediatamente me senti na obrigação de esclarecer que o Rio de Janeiro é muito maior do que parece. Contei sobre a existência de fontes de riquezas culturais em outras redondezas. Expliquei que algumas eram tão significativas ou até mais estigantes que o cenário da bossa nova. Como exemplo, citeiOswaldo Cruz e Madureira para que elas compreendessem que aEstação Primeira de Mangueira não é a única escola de samba que vale a pena visitar.

A Vila Mimosa, que é apenas um dos lugares que compõe esse cenário, não é apenas uma rede de fast food da putaria carioca. Prova disso é o trabalho do cartunista francês Janot, que anos atrás esteve no Rio para realizar um belíssimo trabalho artístico. Trata-se de um álbum ilustrado contendo os principais atrativos da cidade, e também deu origem ao filme entitulado "Rio de Janot". Naquela ocasião, o cartunista fez questão de incluir a Vila (que não é a de Noel) na lista de pontos turísticos a serem redefinidos através do seu traço, junto com Maracanã, Praia e tantos outros. Voltando a mesa de bar, contei esse caso para as cearenses. Não foi o suficiente para diminuir o choque. Pensar na existência de um local com todo tipo de usuário desse serviço e um a la carte que vai de ninfetas a dercysrealmente foi assustador. Que irônia saborosa da vida, explicar o que é a Rua Ceará para duas cearenses.

Não sou consumidor dos principais serviços oferecidos. Porém, aprecio beber uma cerveja em algum barzinho na Vieira Souto da VM e observar a rica fauna dos arredores: profissionais, clientes, comerciantes e familias de moradores... Certa vez saí do Maracanã e resolvi beber um suco de cevada lá para afogar as mágoas de uma derrota. Fiquei amigo de uma funcionária antiga que me perguntou quanto havia sido o jogo, já que também torcia para o Glorioso Botafogo. Convidei-a para sentar e beber comigo mas fiquei preocupado de não atrapalhar o seu marketing, considerando que não tinha interesse em solicitar os serviços da mesma. Dona Rosa riu e disse que não atrapalhava, pelo contrário estava descansando e sem pressa. Na humilde opinião desse narrador, o contato com uma pessoa de tanta sabedoria e vivências tão diferentes da minha é uma das interações mais ricas que posso ter oportundiade de alcançar na vida. Além de excelentes conselhos sobre as mulheres, Rosa foi a pessoa que me fez entender que o sucesso da VM gira em torno de algo muito maior do que o carro-chefe putaria. Não é a toa que já virou até grife de roupa.
Por fim, só lembrando que a Rua Ceará não é apenas a "ocupação". A galera do Rock se reúne em peso paralelamente ao universo descrito que existe logo ali ao lado. Garage marcou gerações. E o melhor era esbarrar com o Mother fucker Ice Cream, coroa sagaz vendendo sorvete em plena night e esbanjando desenvoltura no domínio do inglês. Pareço um defensor do submundo? Quem me dera um dia vir a ser.
(28/05/2009)
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