sábado, 26 de dezembro de 2009

Pobre Gervásio - Parte 2

Galera do Bem, Gervásio sem dúvidas se tornou um ícone para mim. Mais que isso, abriu horizontes perante meus olhos. O autor -Stanislaw Ponte Preta (na charge acima do Lan) - resgatou em mim um sentimento muito forte sobre coisas que as novelas do Manoel Carlos não mostram. Somado a isso, considero que no Insight Insôniaposso me refugiar do bombardeio de informações que recebo a todo instante. Consequentemente, insisto em acreditar que são sinais para refletir sobre a vida, o mundo, o submundo e o cotidiano carioca.

Acontece que um belo dia estou numa mesa de bar com duas turistas cearenses recém chegadas ao Rio de Janeiro e me interesso pelas suas expectativas acerca de explorar a cidade vulgo maravilhosa. Uma delas diz com todas as letras que a intenção é de beber um chopp onde os boêmios escreveram garota de ipanema, passear pelo leblon, conhecer o Rio de Manoel Carlos... Confesso que nesse tipo de situação tenho um sério problema. Bate o espirito da tolerância zero enão consigo conter minha indignação com esse recorte geográfico tão limitado e encantador para os visitantes metidos a besta ou simplesmente mal informadas. Imediatamente me senti na obrigação de esclarecer que o Rio de Janeiro é muito maior do que parece. Contei sobre a existência de fontes de riquezas culturais em outras redondezas. Expliquei que algumas eram tão significativas ou até mais estigantes que o cenário da bossa nova. Como exemplo, citeiOswaldo Cruz e Madureira para que elas compreendessem que aEstação Primeira de Mangueira não é a única escola de samba que vale a pena visitar.

Até aí tudo bem, mas resolvi ir além. Indignado com aquela recorrente visão limitada da topografia dessa cidade e querendo falar sobre o que as novelas não mostram, veio o insight. Apimentando o debate, sem a intenção de convidá-las, fiz com que elas visualizassem o cenário da rua que leva o nome do Estado de origem delas, a Rua Ceará. O choque e o pavor foram evidentes. Um "complexo underground" com variadas opções de lazer. Por que isso assusta tanto as pessoas? Arrisco dizer que existe um moralismo inconsciente dentro de nós. Por diversos motivos e/ou influências, ele desperta mais forte em alguns.

A Vila Mimosa, que é apenas um dos lugares que compõe esse cenário, não é apenas uma rede de fast food da putaria carioca. Prova disso é o trabalho do cartunista francês Janot, que anos atrás esteve no Rio para realizar um belíssimo trabalho artístico. Trata-se de um álbum ilustrado contendo os principais atrativos da cidade, e também deu origem ao filme entitulado "Rio de Janot". Naquela ocasião, o cartunista fez questão de incluir a Vila (que não é a de Noel) na lista de pontos turísticos a serem redefinidos através do seu traço, junto com Maracanã, Praia e tantos outros. Voltando a mesa de bar, contei esse caso para as cearenses. Não foi o suficiente para diminuir o choque. Pensar na existência de um local com todo tipo de usuário desse serviço e um a la carte que vai de ninfetas a dercysrealmente foi assustador. Que irônia saborosa da vida, explicar o que é a Rua Ceará para duas cearenses.

Convido todos a acessarem o site da AMOCAVIM - Associação de Moradores e Amigos do Condomínio da Vila Mimosa:http://www.vilamimosa.com.br/ (Sem inibição de clicar, por favor). Primeiramente, o slogan ocupação de respeito pode soar estranho, mas o site realmente me convence. Apesar de todas as adversidades envolvendo um tema tão tabu, existem pessoas realizando trabalho social sério voltado para um lugar deveras folclórico. Não tenho conhecimento dos propósitos, se existe uma politicagem braba por trás ou algo assim. De qualquer forma, existe uma estrutura com apoio de diversos orgãos públicos (inclusive o Ministério da Saúde). Acho isso louvável.

Não sou consumidor dos principais serviços oferecidos. Porém, aprecio beber uma cerveja em algum barzinho na Vieira Souto da VM e observar a rica fauna dos arredores: profissionais, clientes, comerciantes e familias de moradores... Certa vez saí do Maracanã e resolvi beber um suco de cevada lá para afogar as mágoas de uma derrota. Fiquei amigo de uma funcionária antiga que me perguntou quanto havia sido o jogo, já que também torcia para o Glorioso Botafogo. Convidei-a para sentar e beber comigo mas fiquei preocupado de não atrapalhar o seu marketing, considerando que não tinha interesse em solicitar os serviços da mesma. Dona Rosa riu e disse que não atrapalhava, pelo contrário estava descansando e sem pressa. Na humilde opinião desse narrador, o contato com uma pessoa de tanta sabedoria e vivências tão diferentes da minha é uma das interações mais ricas que posso ter oportundiade de alcançar na vida. Além de excelentes conselhos sobre as mulheres, Rosa foi a pessoa que me fez entender que o sucesso da VM gira em torno de algo muito maior do que o carro-chefe putaria. Não é a toa que já virou até grife de roupa.

Por fim, só lembrando que a Rua Ceará não é apenas a "ocupação". A galera do Rock se reúne em peso paralelamente ao universo descrito que existe logo ali ao lado. Garage marcou gerações. E o melhor era esbarrar com o Mother fucker Ice Cream, coroa sagaz vendendo sorvete em plena night e esbanjando desenvoltura no domínio do inglês. Pareço um defensor do submundo? Quem me dera um dia vir a ser.

(28/05/2009)

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