sábado, 26 de dezembro de 2009

Adriano e a Felicidade

No intuito de tentar entender o que realmente acontece quando um jogador abandona o futebol de maneira tão repentina, parto de alguns pressupostos básicos: a obrigação de corresponder a idéia de carreira, a relação entre público e privado no âmbito mídiático e o que é felicidade.

Aos 27 anos, ganhando um bom salário e jogando por um dos times mais poderosos do mundo, Adriano para. Sem muitas explicações, simplesmente para. Nega depressão ou alcoolismo ou consumo de drogas ou tudo isso ao mesmo tempo agora. Além disso, não quer entrar em detalhes e está no direito dele.

A sociedade (ou tradições geradas por ela, reflexos de doutrinas, manipulações e dominações) nos coloca o conceito de carreira como algo irrefutável e obrigatório para um plano de vida decente. Acredito que o sentimento de ganância muitas vezes está enraizado no medo de não corresponder a essa concepção. Quer dizer, os bem ajuizados terão que focar sempre na estabilidade e no conforto para consequentemente adquirirem uma conformidade confortável.Alguém que consegue atingir o nível que Adriano atingiu antes dos 30 não é obrigado a jogar futebol se não tem mais prazer em jogar. Pode abrir um restaurante, comprar imóveis, viver de renda, sei lá.

Minha primeira impressão, com certeza compartilhada por muitos, foi a de não conseguir entender o que poderia ter feito uma pessoa com o padrão de vida e status social desse porte repentinamente jogar tudo para o alto. Mas sob um olhar mais atento, enxerguei uma confusão mental na qual ele está priorizando se encontrar, retomando o gosto(ou não) pela sua profissão e tendo a hombridade de assumir sua molecagem de simplesmente ter sumido sem dar explicações. É notório que, a visibilidade de Adriano como figura pública - somada ao tipo de acontecimento que literalmente 'não acontece todos os dias' - concentra todos os holofotes da imprensa esportiva e/ou marrom na sua mira. Numa simples analogia, é aquele tipo de coisa que se assemelha a um percalço 'condominal'corriqueiro no qual 10 em cada 10 porteiros vibram por dentro com momentos de emoção e se empolgam ao fofocar para todo mundo do prédio que merece saber de algo fatídico que mudou o simples curso da rotina cotidiana.

O mundo esportivo se une ao caráter tendenciosamente sensacionalista da mídia e todas atenções se voltam para Adriano. Zagalo diz que se ele tivesse casado e constituído família isso não teria acontecido. Pelé mais uma vez abre a boca pra polemizar e diz que isso atrapalha as futuras gerações. Ciro, jogador do Sport (quem é Ciro?), diz que é inacreditável, tão novo... E tantos outros, inclusive eu através desse post, emitem algumas opiniões nada relevantes no cerne da questão: A saúde mental de Adriano. Algo que deveria ser respeitado e apenas observado de longe. Não considero justo que um esportista, um trabalhador não deixa de ser, seja tão cobrado por explicações ou tão analisado por pontos de vista alheios. Quer parar? Para. Deixem ele parar! Acho que é pedir demais, considerando a atuação da mídia - que está quase sempre sedenta por destrinchar 'fatos relevantes'. O público invade o privado. Mas a gente sabe como é: Hoje manchete de jornal, amanhã notinha no rodapé, depois de amanhã uma lembrança, ou quem sabe um retorno.

Vejo uma pessoa confusa, realmente a procura da felicidade. Acho inteligível que a trajetória meteórica de alguém que migra da favela para os castelos europeus traga uma série de perturbações. E respeito a sua postura. Mourinho, técnico da Internazionale, é um envolvido na história que poderia mesquinhamente fazer críticas na condição de 'professor' perdendo peça importante do elenco. Todavia, ao contrário, declarou algo como 'antes o homem'. Se foi apenas uma formalidade elegante eu não sei, entretanto tendo a concordar com esse tipo de posicionamento. Não me interessa os motivos dele, tanto faz. Adriano tem dinheiro e fama, o que muitos almejam e invejam, mas não sente mais prazer. Sentir prazer é ter felicidade.

(12/04/2009)

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